Em entrevista ao programa “Flagrante Direto” da RCB que assinalou, no passado sábado, o Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres, Graça Rojão deixou cair alguns preconceitos que existem na sociedade sobre a violência doméstica que, não escolhe estratos sociais.
“Nós temos algum preconceito, imagina-se que as vítimas são pessoas pobres, sem recursos económicos, quase analfabetas, mas não é verdade. A violência, infelizmente, está bem disseminada na nossa sociedade e atinge, sobretudo, as mulheres e tem a ver com as relações de dominação que os homens estabelecem.”
Dos vários tipos de violência que existem, a psicológica está sempre presente, “a violência física não acontece sempre, nem a violência sexual, nem a violência financeira, mas a violência psicológica é absolutamente transversal.” Um tipo de violência que é normalmente a primeira a manifestar-se e que a sociedade desvaloriza “nós, enquanto sociedade, desculpabilizamos muito as formas de violência que não deixam marcas físicas, as nódoas negras e os braços partidos.”
Em entrevista ao programa Flagrante Direto da RCB, Graça Rojão, admite dificuldade em falar de taxa de sucesso, uma vez que os casos de violência doméstica, “deixam sempre marcas”, mas a sua resolução, no gabinete da Coolabora, está próxima dos 100%, “sim, na grande maioria dos casos.”
A mensagem de Graça Rojão às vítimas de violência doméstica é que não desistam de pedir ajuda.
“Ás vezes, não é a primeira vez que pedem ajuda, a esperança que as coisas mudem também leva muitas pessoas a voltarem atrás, a darem uma segunda oportunidade, uma terceira oportunidade, e até têm vergonha de cá voltar. Às vezes, é difícil de se libertarem, mas não desistam de procurar apoio porque, seja como for, nós estamos cá.”
Segundo Graça Rojão, o círculo da violência doméstica está muito estudado e, por norma, obedece a um padrão – a violência, a reconciliação, a lua de mel e de novo a violência.
“Esse círculo aprisiona as pessoas, quando vem a fase da reconciliação, das flores, da lua de mel, a esperança que as coisas vão efetivamente mudar e, às vezes, nem entendem o que aconteceu para voltarem a explodir. O que também está muito estudado, e é altamente perigoso, é que o nível de violência também tende a aumentar e isso significa que o nível de risco das pessoas também tende a aumentar. Às vezes, há um momento em que percebem que ou saem ou correm risco de vida, elas e os filhos.”
É para dar resposta a estas crianças que, desde setembro do ano passado, a Coolabora tem um novo serviço “de apoio psicológico e psicoterapêutico” a crianças e jovens até aos 18 anos, por onde já passaram mais de uma centena de casos, “estamos no limite da nossa capacidade e acabamos por privilegiar os casos que consideramos mais graves porque não há capacidade de resposta.”