A câmara municipal de Idanha-a-Nova admite vir a apresentar queixa no Ministério Público contra a associação “Habeas Corpus” por ter interrompido a apresentação do livro “Mamã, quero ser um menino” da autoria de Ana Rita Almeida e que decorreu no passado sábado no centro cultural raiano.
Em comunicado o município afirma que a apresentação da obra foi “interrompida de maneira violenta por representantes da associação «Habeas Corpus«, impedindo a apresentação do livro” acrescentando que “esta não é a primeira vez que esta associação se comporta desta maneira violenta” sublinhando que o ex-juiz Rui Fonseca e Castro “presumido responsável desta associação extremista, apelou nas redes sociais ao boicote da apresentação do livro e disponibilizou esta para pagar a deslocação a todos os que quisessem estar presentes para impedirem a apresentação do livro”.
Um comportamento que, refere a autarquia de Idanha “não é admissível num estado de direto em que a liberdade de expressão é um dos direitos fundamentais”, sustentando que “nunca se deixará amedrontar por movimentos extremistas, racistas e xenófobos” nem “intimidar por pessoas que de forma, desordeira e prepotente entraram aos gritos na referida sala, empurram cadeiras e, sem qualquer autorização, colaram cartazes nas paredes”.
O município refere que “devido à postura deste grupo de pessoas e por indicação das autoridades policiais, a autora do livro e o presidente da câmara foram retirados do local, com o intuito de acalmar o ímpeto do referido grupo e, assim, evitar eventuais agressões físicas aos presentes”.
Para a autarquia “a identidade de género é um tema muito pertinente nos tempos que correm e não devemos ter receio de o abordar, discutir e enfrentar, trocando ideias e opiniões e, transmitindo a nossa posição sempre de forma construtiva e sadia”, sublinhando que “este livro terá, pelo menos, o condão de despertar consciências sobre o tema e promover a sua discussão”.
Contudo “este grupo de pessoas nunca desejou discutir quaisquer ideias com os presentes no evento, mas sim, por meio de uma violenta gritaria, com recurso inclusive a um megafone, silenciar a voz e as ideias dos demais, numa flagrante demonstração de intolerância, violadora do fundamental direito à liberdade de expressão e opinião dos demais, nomeadamente, da autora”.
A terminar este comunicado, o município de Idanha expressa o seu apoio a Ana Rita Almeida “na defesa da sua liberdade de expressão, opinião e manifestação literária” e mostra-se disponível “para colaborar com a autora e com as autoridades no apuramento das responsabilidades que se mostrem pertinentes relativamente ao ocorrido, reservando-se o direito de apresentar queixa ao Ministério Público, apurados os factos”, considerando que “não é admissível ficar indiferente perante tamanha agressão ao coração da democracia, que é a liberdade de expressão”.