Cerca de 40 sócios e direção do Sp. Covilhã mostraram-se ontem “muito preocupados” e inclusivamente, “chocado”, expressão do associado Paulo Ribeiro, com a situação financeira do clube, época 2023-24, que apresentou um resultado líquido negativo de 323 mil euros e pelo segundo ano consecutivo.
Marco Pêba, presidente do clube, depois de instados pelos sócios, Paulo Ribeiro, Marco Gabriel e Hugo Duarte, na discussão dos documentos, avançou na assembleia geral realizada esta terça-feira, no Auditório Municipal, que até final deste ano irá apresentar soluções.
“Para além de vocês, nós também estamos preocupados e estamos a tentar arranjar soluções e essas soluções vão ter que ser apresentadas, aqui, em Assembleia Geral, até o fim do ano, não é até ao final da época, porque vai ser muito difícil acabarmos a época sem termos soluções, nomeadamente, financeiras”, disse.
O resultado negativo das contas do clube deve-se também, do resultado negativo (354 mil euros) da SDUQ (pertence ao SCC), que gere a equipa sénior, cuja Sociedade Desportiva Unipessoal por Quotas, deve nesta altura, mais de um milhão de euros ao clube.
“O resultado líquido negativo da SDUQ (354 mil) transformou o resultado positivo do Sporting da Covilhã em resultado negativo de 323 mil euros”, disse o Técnico Oficial de Contas do clube, Sérgio Passarinha, durante a reunião magna de sócios e corroborada pelo presidente do conselho fiscal, Carlos Mineiro da Costa..
Esta situação financeira critica, foi provocada, recorde-se, pela descida à Liga 3, na época 2022-23, na qual provocou uma quebra de receitas entre os 700 a 800 mil euros, principalmente na rubrica “direitos de transmissão”, cerca de 450 mil euros, e em receitas de apostas desportivas e subsídio da UEFA em cerca de 200 mil euros, para além de patrocínios. O Município da Covilhã continua, no entanto, a apoiar o clube (100 mil euros por época).
Estes resultados negativos da sociedade “podem por em perigo o equilíbrio patrimonial do clube”, avisou Sérgio Passarinha.
“Verificamos aqui que há uma redução de 580 mil euros de rendimento e eu acrescia mais 200 mil, que é do subsídio da UEFA, ou seja, temos uma perda de rendimento na ordem dos 700, 800 mil euros. Isto é assustador”, disse.
Quanto aos gastos da SDUQ realça que o ponto que foi mais reduzido foram as despesas com pessoal (jogadores) cerca de 400 mil euros, sublinhando, no entanto, que é preciso ter em atenção que “sem eles não se sobe às ligas profissionais”.
“Portanto é daqui que vem este prejuízo que vai afetar o clube. Cada vez que temos este prejuízo, se mantivermos o que está a acontecer para o ano, vamos ter mais de 300 mil, e depois mais de 300 mil e mais de 300 mil, e o clube que está equilibrado financeiramente pode entrar em desequilíbrio financeiro”. “É urgente avançar para decisões”, disse.
Recorde-se que do actual plantel, apenas cinco jogadores, são profissionais e que, também, devido à falta de verbas, as obras no Estádio Santos Pinto estão paradas, tal como ainda não arrancaram os trabalhos de construção dos Campos de futebol na Academia de Futebol da Formação.
“Se surgir algum empresário que nos possa ajudar nesse sentido, agradecíamos bastante”, disse o líder Marco Pêba.
As contas, plano de gestão e relatório do conselho fiscal(apelou, apesar de tudo, à aprovação das contas 23-24), foi tudo aprovado por maioria, com 3 abstenções, juntamente com muita preocupação demonstrada pelos associados presentes.
Marco Gabriel, inclusivamente, mostrou preocupação com a “fraca autonomia financeira do clube”, considerando mesmo, que “o resultado líquido negativo, histórico no mau sentido, deve merecer uma reflexão profunda, antes que o clube bata no fundo”. Afirmou.
“Compreendo a dificuldade e sei que vocês (órgãos socias atuais) não são os responsáveis”, disse, explicando ainda que “o clube foi direcionado para que isto acontecesse. Aconteceu na época passada, ou seja, não tinha sustentabilidade absolutamente nenhuma, enquanto clube. O dia que descesse à terceira liga era isto que podia acontecer e é isto está a acontecer. O que apelo, de facto, é que haja uma grande reflexão e que haja medidas que os sócios consigam ver com uma estratégia de futuro”, disse Marco Gabriel.
Paulo Ribeiro (ex-candidato à MAG pela lista B, que perdeu as eleições no passado mês de maio), foi outro dos sócios que usou da palavra e neste ponto, mostrou-se “em choque”.
Recordou que “já no último exercício a SDUQ teve um resultado negativo de 250 mil euros, e já se sabia que se iam perder estas receitas. Pois recordo as minhas preocupações manifestadas no ano passado com os possíveis resultados deste ano, que se verificaram. E sublinho a minha preocupação com o próximo ano. por isso, é importante que haja, em breve, dinâmicas diferentes á direção, para que não permitam que o clube vá ao fundo”. Disse.
“Mas agora, Marco, o dedo apontado é para ti”, disse ao presidente do SCC, Marco Pêba, vincando que “é a ti que exijo uma solução, que exijo dinâmica, que foi para isto que foste eleito, com um programa que propuseste para não permitir que SCC vá ao fundo. Nós neste momento, permite-me esta imagem, estamos no meio do poço e, ou levamos um balão de ar quente e vimos para cima ou aterramos lá em baixo. Mas também te vou dizer uma coisa, não me venhas vender SAD, não é a solução”, disse Paulo Ribeiro.
Hugo Duarte “assina por baixo” estas declarações e acrescenta que “os atuais órgãos diretivos eram conhecedores desta situação quando se apresentaram a eleições, há 5 meses. Afinal, qual é estratégia a seguir?” perguntou o sócio.
O associado 917 do SCC, adiantou que, “partindo do pressuposto, como foi dito, que não é necessária a formação de uma SAD sem ser em campeonatos profissionais, isto foi dito, porque todos nós sabemos das SAD’s que estão formadas e que são vendidas por 1 euro, porque há uma dívida para trás e depois sabemos como é que isso acaba. A minha pergunta é muito clara aos senhores que foram eleitos há 5 meses: qual é a vossa estratégia?”, voltou a questionar.
No final da discussão do ponto na ordem de trabalhos, o presidente da direção não escondeu que ” nós tínhamos conhecimento da situação financeira, mas não estava a contar, por exemplo, com o ter de pagar mais de 135 mil euros à autoridade tributária por ter perdido o caso com a Braga parques, sobre o aluguer dos silos auto”. Referiu.
O clube perdeu a causa em tribunal e está a pagar à Autoridade Tributária, 5.800 euros/mês, durante dois anos, cujo valor total é de 89 mil euros, mais juros de mora, que dá o número avançado pelo dirigente (N/R).
Sublinhando que o grande problema está na perda de receitas da SDUQ comprometeu-se a “apresentar soluções até final do ano”, garantindo que “nada será vendido, nem haverá investidores que não apresentem as suas propostas aos associados em Assembleia Geral”, garantiu marco Pêba.
Lembramos que a possibilidade, da existência de uma futura SAD no clube, o projecto tem de passar forçosamente por uma assembleia geral, tal como foi votado favoravelmente pelos sócios, na reunião magna extraordinária realizada em março de 2023, no auditório das sessões solenes da UBI.
Foi ainda aprovada por maioria, com duas abstenções, a proposta apresentada pelo presidente da mesa da assembleia geral , francisco Moreira, para constituir uma comissão de alteração dos actuais Estatutos do clube, que vigoram desde de setembro de 2000 (aprovados pelos sócios) e publicados à posterior, em Diário da República, em setembro de 2001.
A Comissão de Revisão dos Estatutos tem sete elementos, seis dos quais, oriundos dos órgãos sociais (Francisco Moreira, Daniela Fernandes, João Carlos Campos, António Vicente, Carlos Mineiro da Costa e Jorge Fonseca, para além do sócio Hugo Duarte).
No final do primeiro semestre de 2025, após apreciação de um advogado, deverá realizar-se uma assembleia geral para analisar, discutir e votar os estatutos do clube.
Foi entretanto votada por unanimidade, a ratificação da passagem a dirigente efectivo, do suplente e seccionista do clube, Edgar Fernandes, tal como a troca de cargo do director André Oliveira, para Secretário-Geral, para ocupar o lugar deixado por Fausto Batista, que tinha pedido a sua demissão.
Ficou ainda a saber-se que o clube está a realizar obras na Área Social (600 metros quadrados, 300 dos quais, pertencem agora a uma empresa de restauração “Brasil ao Peso”, que alugou aquelas instalações, com o compromisso de pagar mensalmente ao Sp. Covilhã, 2.500 euros).
O clube serrano vai também realizar alguns melhoramentos naquele espaço (antiga sede social e onde está situada a secretaria).
Por último, Marco Pêba referiu-se ainda, respondendo ao associado Hugo Duarte, relativamente às presenças de duas pessoas, sem ligação ao clube e que poderiam vir a comprar a SDUQ e passar a SAD. casos de Luís Duarte(empresário) e Pedro Garcia(ex-árbitro).
“O Luís Andrade é meu amigo, esteve cá algum tempo na cidade e no clube, mas não vai comprar o clube, nem a SDUQ, nem sequer a possibilidade de passagem a SAD. Nada disso é verdade. O clube é dos sócios e tudo o que vier a surgir, caso apareça alguma proposta para transformar a SDUQ em SAD, vai ter que passar por uma assembleia geral do clube…sempre. Ponto final. Quanto a Pedro Garcia, foi árbitro e esteve aqui um mês, para nos ajudar nas questões de arbitragem, onde nos deu formação, mais nada. Tudo o resto é treta”, disse o presidente da direção.
O Sporting Clube da Covilhã tem actualmente 2.770 sócios.