A RCB escolheu a primeira manhã da primavera e foi assistir à sessão com os alunos da Academia Sénior. E como a melhor forma de celebrar a poesia é lê-la, a manhã foi, sobretudo, de leitura de poemas de Eugénio de Andrade. As suas palavras andaram por ali a dançar ao som da “Canção”.
“Tinha um cravo no meu balcão;
Veio um rapaz e pediu-mo:
– Mãe dou-lho ou não?” (…)
Eugénio de Andrade, extraído do poema “Canção”, em Primeiros Poemas
Mas como poesia não rima apenas com alegria, também houve olhos marejados e vozes embargadas quando foi o lido o “Poema à mãe”.
(…) “Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas…
Boa noite. Eu vou com as aves!”
Eugénio de Andrade, extraído do “Poema à mãe”, em Os amantes sem dinheiro.
Também houve poemas improvisados, que não faziam parte das folhas que a Alma Azul distribuiu pelos presentes. Foi a poesia a manifestar-se livremente em “Madrigal”:
“Tu já tinhas um nome, e eu não sei
se eras fonte ou brisa mar ou flor.
Nos meus versos chamar-te-ei amor.”
Eugénio de Andrade, poema “Madrigal”, em As mãos e os frutos
Na terra de Eugénio de Andrade e das cerejas, no primeiro dia de primavera, soltou-se o poema “A uma cerejeira em flor”.
“Acordar, ser na manhã de abril
a brancura desta cerejeira;
arder das folhas à raiz,
dar versos ou florir desta maneira.
Abrir os braços, acolher nos ramos
o vento, a luz, ou o quer que seja;
sentir o tempo, fibra a fibra,
a tecer o coração de uma cereja.”
Eugénio de Andrade, “Poema a uma cerejeira em flor”, em As mãos e os frutos
No Fundão, o dia mundial da poesia foi celebrado com a poesia de Eugénio de Andrade, na biblioteca com o seu nome, sob o seu olhar, que parece dar vida ao quadro que ilustra a parede da sala, com o poema “Urgentemente”, escrito pelo punho do próprio.
(…) É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.
Cai o silêncio nos ombros,
e a luz impura até doer.
É urgente o amor,
É urgente permanecer.
Eugénio de Andrade, extraído do poema “Urgentemente”, em Até Amanhã