A Autoridade da Mobilidade e dos Transportes (AMT) quer alargar o modelo de mobilidade integrada a 23 municípios da Beira Interior, com a criação de um passe único e um comboio expresso entre Castelo Branco e Guarda, conforme anunciou esta terça-feira em Lisboa, na apresentação do estudo “Combate à Pobreza da Mobilidade”, no âmbito do projeto-piloto de Mobilidade Integrada na Beira Interior.
O plano da AMT inclui a criação de um passe mensal único e bilhete intermunicipal digital ou físico, bem como a implementação de um comboio regional expresso entre Castelo Branco e a Guarda, com paragens limitadas às sedes dos municípios atravessados.
A nova ligação ferroviária, com frequência horária e horários fixos, poderá reduzir, de acordo com o estudo da AMT, o tempo de viagem entre as duas capitais de distrito para 87 minutos — menos 13 do que atualmente se demora de autocarro.
A proposta visa ainda a criação de uma plataforma digital semelhante à da Carris Metropolitana, permitindo aos cidadãos planear percursos intermunicipais com recurso a aplicações como o Google Maps.
A AMT defende também a implementação de um sistema tarifário unificado e a eliminação das fronteiras administrativas entre concelhos, à semelhança do que já ocorre noutras regiões do país. O objetivo é promover a acessibilidade ao transporte público e combater a chamada “pobreza de mobilidade”, associada a baixos rendimentos e falta de alternativas viáveis de deslocação.
De acordo com os dados do estudo da AMT, entre 2001 e 2021, a oferta de transportes coletivos caiu para metade nos cinco municípios inicialmente envolvidos no projeto (Belmonte, Castelo Branco, Covilhã, Fundão e Guarda), que representam 58% dos cerca de 310 mil habitantes das duas CIM.
O projeto-piloto de Mobilidade Integrada da Beira Interior assenta na integração dos diversos modos de transporte, na partilha de dados em plataformas digitais e na criação de um sistema tarifário comum. Prevê ainda a articulação entre a ferrovia e as redes rodoviárias intermunicipais atualmente em contratação, bem como a expansão do Transporte de Passageiros Flexível (TPF), especialmente útil em zonas de baixa densidade populacional.
A presidente da Autoridade da Mobilidade e dos Transportes, Susana Batista, alertou, durante o evento, que o sistema “não deve estar limitado aos cinco municípios” e defendeu a criação de uma autoridade única de transportes para todo o território das duas Comunidades Intermunicipais. O vice-presidente da Câmara do Fundão, Miguel Gavinhos, sublinhou que os municípios não têm capacidade financeira para suportar sozinhos as compensações aos operadores e apelou à intervenção do Estado central, nomeadamente da CP, para garantir a viabilidade da proposta ferroviária.
A mobilidade da região poderá também beneficiar de soluções inovadoras e sustentáveis, como o uso de trotinetas e bicicletas elétricas, ou a expansão de serviços em que cidadãos podem reservar viagens em veículos partilhados, ajustando horários e itinerários às suas necessidades. Este modelo tem sido testado em municípios como o Fundão e poderá, segundo o estudo, ser uma peça fundamental para garantir acessibilidade em zonas remotas e envelhecidas.