Orquenses e amigos de Jorge Branco assistiram ao lançamento do seu último livro “A Quadrilha dos Galhardos e outros Contos”. Foi no passado dia 4 de agosto que a obra, constituída por onze contos, se revelou na apresentação feita pelos orquenses Manuel Ramos Pereira e Joaquim Candeias da Silva, antecedida de um momento musical de violino por Ana Carolina Santos, aluna da academia de música Santa Cecília.
O sol era fogo de verão que poderia convidar à sesta da tarde ou a mergulhos na bela piscina pública. Mas não, dezenas de pessoas, entre as quais os vereadores da Câmara Municipal do Fundão, Alcina Cerdeira e Pedro Neto, o editor da obra, Fernando Mão de Ferro e a presidente da Junta de Freguesia, Ressurreição Saraiva, estiveram presentes no lançamento do livro de Jorge Branco que, embora não seja natural da Orca, já é considerado mais que um filho adotivo desta terra.
Na sua intervenção, Alcina Cerdeira regressou ao seu tempo de meninice “o conto dos Galhardos narrado neste livro remete-nos para a nossa infância, todos nos lembramos de histórias que os nossos avós nos contavam, misto de lenda e verdade”. Pedro Neto, fazendo questão de estar presente, referiu “sendo o lançamento de um livro na minha freguesia, não podia deixar de me associar e, encontrando-nos no olival, povoado de oliveiras centenárias, quantos estórias não haverá para contar, deixo o desafio”.
O diretor da editora Colibri, Fernando Mão de Ferro, elogiou o trabalho de Jorge Branco “É com livros como este, que retrata os mitos e lendas de uma povoação, que levamos as gerações mais novas a gostar da terra dos seus antepassados. O autor conta estas estórias de uma forma deliciosa, sabe descrever o momento e as circunstâncias, é importante para os territórios recuperar as memórias”.
O investigador e historiador Joaquim Candeias lembrou o conterrâneo Manuel Marque e o seu amor pela Orca, que também abordou o assunto dos Galhardos no livro “SOBRAS DE DEUS – Numa Orca, tanto de Deus, tantos diabos”. No prefácio de que é autor, Candeias expõe “Jorge Branco é médico, já com carreira feita e provas dadas, mas o clínico cedo se balançou na aventura de sair ao terreiro da escrita em pública forma, ou seja, em livro”. Ainda segundo o historiador, “a rocambolesca “estória” dos Galhardos é uma narrativa ficcionada com uma deliciosa história (isto porque ela incorpora um fundo histórico ou pretende, pelo menos, fundamentar-se em memórias e territórios com história, a que se prendem velhas lendas, com tempos, gentes e geografias específicas) em que o ponto de partida é a Orca ”.
Manuel Ramos Pereira, professor emigrado em França, começou por exprimir “Acho muito interessante o autor situar a lenda na época das invasões francesas e toda a mística na defesa dos territórios”. Lembrando alguns nomes de Galhardos que deviam ficar na memória dos orquenses, fez a caracterização dos protagonistas segundo as suas origens socioeconómicas e que acabaram por se juntar na defesa de causas, lutando ao lado do progresso e do humanismo, contra a exploração, a prepotência e o obscurantismo, dizendo “podiam muito bem ser personagens de outros contos romanceados”.
O autor, emocionado e com a voz tolhida, agradeceu a presença de todos “deixo um abraço às entidades oficiais, amigos orquenses, colegas médicos e conterrâneos da Comenda – terra natal do escritor”. Fez um agradecimento particular a Joaquim Candeias pela documentação facultada que permitiu enriquecer a narração da lenda dos Galhardos e a Manuel Ramos que se disponibilizou fazer a apresentação da obra. “Este é o meu primeiro livro de contos, com especial enfoque na estória dos Galhardos construída a partir de velhas lendas que povoam o imaginário da Orca”, afirmou Jorge Branco. Dá conta das dúvidas que o assolaram no desenvolvimento narrativo “A verdadeira história dos acontecimentos em torno dos Galhardos, a começar pela sua localização no tempo, é bastante complexa. Há quem fale num grupo fora da lei que assaltava os poderosos e privilegiados, distribuindo algum produto do roubo pelos desvalidos. Haveria um ou mais elementos de uma quadrilha que se escondia numa mítica gruta inexpugnável, que seria a Fraga dos Galhardos”.
Jorge Branco, indo audazmente remexer as tradicionais raízes do Mito/Lenda, concebe uma estruturação humano-social adequada a determinados lugares e respetivos quotidianos, remetendo-nos para enredos e tramas conflituados pelo drama, o pesadelo, a angústia e a tragédia que, no dizer do narrador, ficaram na memória coletiva do povo da Orca e fazem hoje parte do seu património cultural imaterial e para todo o sempre. Em jeito de desafio, o autor convida os orquenses à leitura crítica e propostas de outras versões para esta lenda dos Galhardos.
Foram estórias contadas, mas muitas estórias ainda há por contar. Por agora ficaram os silêncios, rasgados pelos raios de luz nas trevas incertas.
De. José Manuel Ferro (Orca)