A nova exposição do Espaço Biblos, no Fundão, é uma oportunidade única de mergulhar nas rotinas da Zona Industrial. As histórias e as experiências daqueles que a tornam possível, estão patentes numa espécie de documentário, que resulta de uma investigação cinematográfica de Joana Magalhães em 2020. “Zona Industrial” foi inaugurada este sábado e pode ser vista a qualquer hora do dia, até 16 de setembro.
Trata-se de um documentário composto por sete curtas-metragens referentes a diferentes empresas que compõe a Zona Industrial do Fundão.
Desafiada pela ARS Investigação e Desenvolvimento, no âmbito do Projeto Pontes, Joana Magalhães filmou as rotinas de quem trabalha, ou trabalhou, naquele “sítio morto” que, no final de contas, mostra muitas vidas.
À RCB, o coordenador do projeto, Carlos Fernandes, explicou que a motivação por trás do repto foi por “estarmos a falar de uma zona de acesso limitado, ou seja, ninguém vai fazer nada à Zona Industrial, porque lá produzem-se coisas que depois são distribuídas por outras entidades, pelo comércio”.
No entanto, diz, “trabalham lá pessoas, e o que nos interessa a nós são essas pessoas”. Por outro lado, a ideia é também “dar visibilidade ao trabalho que é feito lá”, mas sem entrar na privacidade das pessoas, “sem invadir o território”.
Para a investigação foram selecionados vários espaços do parque industrial, desde a “Casa do Tomate”, onde não existe qualquer tomate, até aos primórdios de uma central de biomassa polémica, passando pelas coreografias do labor da salsicharia ou pela vidraceira que antes se enchia de trabalhadores e agora está vazia.
Carlos Fernandes explica que o trabalho foi no sentido de “fazer um registo das rotinas, e de alguma maneira perceber como é que as pessoas vivem essas rotinas, quer com o seu testemunho oral, quer com o seu testemunho físico, que conseguimos ver nalguns casos”.
Na folha de sala da instalação pode ler-se que, quando começou a filmar este projeto, Joana Magalhães, que à data desta inauguração se encontrava em Berlim, nunca imaginava que estivesse “tão datado” na sua estreia, talvez por se tratar de uma investigação concluída em 2020.
Mas o coordenador do Pontes vê “um espaço intemporal, universal”. Justifica que “daqui a 20 anos” é possível “ver estes pequenos filmes e ainda fazem sentido”, já que as “rotinas vão ser as mesmas, e as inquietações dos trabalhadores vão ser as mesmas”.
Carlos Fernandes explica que a intenção é “trazer este trabalho para que as pessoas do Fundão possam conhecer a Zona Industrial sem lá terem ido”. Por isso a instalação vai estar no espaço Biblos e, durante a noite ou fim de tarde, os filmes podem ser vistos através de um grande ecrã montado para o exterior, e durante a manhã, está disponível no interior da galeria.
“Zona Industrial” fica patente no Espaço Biblos, até 16 de setembro de 2024.