Figura ímpar da cultura portuguesa, disse o presidente da Assembleia Municipal do Fundão (AMF) sobre Eugénio de Andrade citado, por diversas vezes, no seu discurso que colocou a tónica na coesão territorial como “ativo fundamental de abril para garantir uma sociedade mais justa e humanitária”.
Para Carlos São Martinho, “a inversão do nosso inverno demográfico” é o grande desafio que é preciso enfrentar, disse elogiando a estratégia do Fundão como terra de acolhimento, que promove “os valores da tolerância e o diálogo intercultural”.
O presidente da AMF anunciou ainda que da Assembleia vai nascer uma Comissão organizadora das comemorações dos 50 anos do 25 de abril, que “possa conter um conjunto vasto de iniciativas alargadas no tempo e faça sobressair ainda mais os valores que abril continha e que possamos inverter a insatisfação que os cidadãos sentem, quanto à qualidade da democracia. Isto vai, meus amigos, isto vai.” Disse, citando Ary dos Santos.
Carlos Jerónimo discursou em nome da bancada do PSD enaltecendo o heroísmo do passado, mas com os olhos postos no futuro. Carlos Jerónimo entende que a solução para combater as ameaças às conquistas de abril é cumprir os valores de abril, na educação, “para todos e o tempo todo, que nos últimos anos tem sido uma miragem”, na saúde, facilitando o acesso aos cuidados de saúde primários, recordando que “só no concelho do Fundão existem 6 mil cidadãos sem médicos de família”, mas, também na indignação, porque se não for dado este “grito de alerta às autoridades competentes então para que serve lembrar abril?”, questionou Carlos Jerónimo citando Sá Carneiro, “o que não posso, porque não tenho esse direito é calar-me, seja sob que pretexto for”. E não calou. A indignação deu lugar à poesia de Eugénio de Andrade “É Urgente o amor.”
Para a CDU, é urgente “aumentar os salários e as pensões só assim se pode ambicionar uma vida mais digna na qual o acesso à cultura e ao lazer seja universal”. É urgente democratizar e valorizar a cultura porque ela é também uma forma de combater o preconceito e a intolerância.
A saúde e a educação, “publica, gratuita e de qualidade”, foram outras das conquistas de abril invocadas pela representante da CDU, Margarida Pacheco, que considerou “justa” a luta dos professores. Para a CDU, celebrar abril é lutar por uma sociedade mais justa, “não podemos aceitar atentados aos direitos conquistados”, referiu Margarida Pacheco, “abril abriu portas à defesa dos direitos laborais, uma luta para a qual não devemos baixar os braços.”
Para Sónia Reis, do Bloco de Esquerda, a data deve servir para renovar o compromisso com a liberdade, “um dos nossos maiores bens, que nos permite expressar opiniões, escolher os nossos representantes e viver numa sociedade justa e igualitária.”
À liberdade juntam-se outros direitos fundamentais, como “a saúde a educação, a habitação e a liberdade de expressão”. É, assim, preciso “continuar a lutar por uma sociedade mais justa e igualitária onde todos tenham acesso a esses direitos”, que o Estado deve garantir.
Tiago Soares Monteiro, da bancada do PS, traçou as diferenças entre o antes e o Pós 25 de abril de 74, “data que simboliza o advento da democracia em Portugal”. 49 anos depois “comemoramos um país novo e moderno”, muito graças ao poder local democrático, uma das conquistas de abril que permitiu passar “a construir e decidir no país real” e que, pelas suas “imensas realizações”, fez a diferença.
Tiago Soares Monteiro deixou o alerta, “querem machucar o que levou 50 anos a construir”. Enaltecendo o país de “diversidade multicultural, igualdade de género, respeito pelos povos e que conta com todos independentemente da sua condição”, o eleito do PS na AMF disse que é preciso “arregimentar os democratas, fidelizar os moderados e combater os que querem acabar com o que o 25 de abril nos proporcionou”, uma missão para a qual estão “todos convocados”.
Paulo Fernandes, presidente da Câmara Municipal do Fundão, salientou a simbologia do lugar escolhido, este ano, para celebrar abril.
“O lugar da casa. É este sítio, um lugar de poesia que hoje é a casa simbólica da nossa democracia.” E porque poesia rima com democracia foi ela, a poesia, que dominou o discurso do autarca que terminou a brincar, seriamente, com as palavras “permaneçamos de atalaia.”