O início perdeu-se no tempo, mas a história passou, através da oralidade, de geração em geração. Maria do Carmo tem 62 anos, lembra-se da festa já “no tempo dos meus avós” e da lenda que lhe está associada.
“Dizem que uma praga de gafanhotos atingiu a aldeia e os nossos antepassados prometeram se salvassem o trigo e o milho que viriam fazer uma festa. Os gafanhotos foram todos morrer lá em baixo, à capela de S. Sebastião, e daí as pessoas ficaram muito gratas pelo S. Sebastião fazer este milagre, porque para eles foi um milagre.”
E a promessa é honrada pelos habitantes da aldeia, todos os anos, “do trigo, fazemos os cascoréis e do milho, fazemos as papas” que serão distribuídas pela população no final da missa e da procissão. Em Póvoa de Atalaia ainda fazem as papas à moda antiga, e dão muito trabalho.
“Primeiro, é preciso o milho, despois, é preciso moê-lo, é preciso areá-lo porque tem muita casca, é preciso ser muito bem lavado, para saírem as impurezas todas, e depois é confecionado.”
A festa dá muito trabalho e despesa, mas é sobretudo a falta de gente que ameaça a tradição. “Antigamente, nomeavam 25 e entravam os 25, hoje em dia, já não, há menos gente, dá muita despesa e muito trabalho.” Este ano são nove os festeiros, Maria do Carmo é uma delas e à RCB explicou que tentam fazer o melhor para honrar a promessa dos seus antepassados e manter a tradição, “os meus avós já contavam, e nós tentamos manter, fazer o melhor que podemos para a tradição continuar.”
Da tradição faz ainda parte o arranjo dos açafates que carregam as papas e os coscoreis no cortejo até à capela, feitos de verga, e enfeitados com panos de renda, a maioria lérias, que são rendas típicas da freguesia, e flores “antigamente não havia flores como agora a tradição era as camélias e as violetas, sabe que as violetas florescem no mês de janeiro, agora é o que temos, tentamos por as mais bonitas”.
Passados três dias de muito trabalho, tudo está pronto para a festa que, além de unir e orgulhar a aldeia, leva sempre muitos visitantes a Póvoa de Atalaia.
Às 13h, realiza-se a missa, na igreja matriz, segue depois o cortejo até à capela de S. Sebastião, onde serão distribuídas as papas pela população e visitantes.