Apesar do estudo revelar que há mais mulheres com um grau de escolaridade de ensino superior (66.1%), contra 48,3% de homens, apenas seis, dos 40 jornais estudados, têm diretoras mulheres. Segundo Liliana Carona, existe uma dificuldade em fazer espelhar essa formação no percurso profissional das mulheres.
“É difícil, principalmente no panorama regional, convocar as mulheres a assumir essa responsabilidade, mas isso não é porque as mulheres não tenham competência, é porque existe uma herança patriarcal profunda, de séculos de ostracização.”
A inclusão de uma alínea especifica para a igualdade de género no Código Deontológico dos Jornalistas é uma das formas de alterar este cenário e uma das recomendações finais do estudo, apoiada por 44,3% dos inquiridos.
A precariedade no jornalismo também atinge maioritariamente as mulheres (24,2% afirmou não ter contrato temporário de trabalho, face a 7% dos homens) mas no jornalismo regional interessa ressalvar que, para ambos os géneros, os salários são muito baixos “estamos a falar de uma média na ordem dos 635 a 700 euros, portanto, estamos à porta de uma greve dos jornalistas e eu acho que é tempo de se olhar para estas questões com seriedade.”
Um dado que despertou a curiosidade da investigadora e jornalista foi verificar que os homens afirmaram refletir mais sobre o tema da igualdade de género do que as mulheres, “porque as mulheres já dão isto como um dado adquirido”, mas também algumas respostas chocantes como “uma situação de violência explicita na redação” ou “claramente, uma situação de violência psicológica” ou ainda quem considere perigoso colocar uma jornalista, à noite, a trabalhar.
Para Liliana Carona é com formação que se altera este panorama.
“Debater e apostar na formação, através da literacia mediática nas escolas, que eu acho que deveria ser uma matéria que se deveria tornar uma disciplina, quanto mais cedo melhor, e a implementação dos planos de igualdade de género nas redações.”
Outra das recomendações finais do estudo é a digitalização dos arquivos dos jornais, nomeadamente os centenários, “para que se reconheça o papel das mulheres, a terem existido, porque eu tive muita dificuldade em encontrar bibliografia que pudesse suportar o meu estudo, pudesse de alguma maneira ilustrar que mulheres existiram no jornalismo regional, até no jornalismo nacional.” Conclui a jornalista, cronista e professora, em entrevista à RCB.