O número de empresas “decresceu muito” nesta indústria, ligada à lã, que representa 8% de toda a indústria têxtil do nosso país, “porque tem a ver muito com o tipo de matéria prima que usamos, que são matérias primas mais nobres, que é o caso da lã. A lã é um produto natural que é caro e sofre uma concorrência de todas as fibras artificiais, sintéticas, enfim!”
A região ainda acolhe a maioria da indústria dos lanifícios do país, mais por tradição, do que devido à existência de matéria prima que, hoje, é toda importada.
“O problema é que, devido à maneira como fazemos as lãs em Portugal, não têm qualquer valor para a indústria de lanifícios, são capazes de ser muito boas para setores mais artesanais, agora, para uma indústria intensiva de fabricação, de altas produções, não servem.”
José Robalo, em entrevista ao programa Flagrante Direto da RCB, recordou a tentativa, gorada, da ANIL, de criar um polo, no país, para melhorar as lãs tornando-as mais apetecíveis para a indústria, “isso implica uma série de condições técnicas que, neste momento, não se verificam”.
Mas, o projeto não teve acolhimento nem do poder central, nem local, “acharam que não valia a pena, não foi aprovado, teríamos que ter um sítio para fazer a criação desse núcleo que não mereceu o apoio nem do governo nem das instituições locais, que não era aqui, e nós desistimos desse projeto.”
A indústria dos lanifícios importa, assim, a matéria prima e exporta a maioria da sua produção, tornando-se numa indústria importante para a balança comercial. Um dos principais problemas com que se debate é um problema à escala europeia.
“Enquanto que na indústria europeia temos de ter cuidados no sentido de sermos uma indústria sustentável, o mesmo não se passa no resto da indústria, sobretudo na Ásia.”
No período da pandemia não encerrou nenhuma empresa do setor, muito devido aos apoios que houve, mas, José Robalo está preocupado com o pós-pandemia. “O meu medo é que muitas empresas que concorreram a esses apoios e se endividaram, hoje tenham dificuldade em responder a esta crise.”
Uma crise agravada pela guerra que fez disparar os custos da energia, “o aumento da energia, nalgumas empresas, correspondia a mais do que a faturação”, a que se junta o sufoco das empresas com os impostos, “hoje as empresas estão sufocadas por tantos impostos.”
O presidente da ANIL deita ainda por terra a ideia de que esta é uma indústria tradicional.
“É altamente inovativa, que tem de evoluir, tem de criar novos produtos, porque de seis em seis meses estamos a apresentar novas coleções, se não evoluir a indústria acaba.”
Apesar de tudo, o presidente da ANIL está moderadamente otimista em relação ao futuro da indústria têxtil e dos lanifícios, porque está a trilhar o caminho da sustentabilidade.
“Não podemos continuar a fechar os olhos a uma realidade que cada vez nos custa mais caro. Assim sendo, a indústria têxtil e dos lanifícios tem hipótese de continuar o seu caminho, cada vez mais sustentável e cada vez mais em consonância com o nosso mundo.”