O Museu Francisco Tavares Proença Júnior (MFTPJ), em Castelo Branco, acolhe, até 7 de abril de 2024, a exposição Tarde Azul, o Universo Amoroso de Julio/Saúl Dias, uma organização da Câmara Municipal de Castelo Branco, em colaboração com a Galeria Julio – Centro de Memória, tutelada pela Câmara Municipal de Vila do Conde, detentora do espólio do artista.
A exposição “Tarde Azul”, inaugurada no passado fim-de-semana, no Museu Francisco Tavares Proença Júnior, em Castelo Branco, encerra as comemorações dos 120 anos do nascimento do pintor Julio, poeta Saúl Dias (1902-1983), considerado pelos curadores, a critica de arte Maria João Fernandes e o poeta Gonçalo Salvado, “expoente do Lirismo do Século XX em Portugal e Histórico Pioneiro da Arte Moderna Portuguesa”.
Nesta mostra, reúnem-se alguns do melhores desenhos, aguarelas e pinturas de temática amorosa de Julio, com a componente narrativa que o próprio autor reconheceu existir no seu trabalho, em diálogo com a poesia de Saúl Dias, numa simbiose das vertentes pintura e poesia, que dão forma ao universo do artista considerado como o expoente do lirismo do século XX em Portugal.
Refira-se que, Maria João Fernandes é autora da primeira monografia editada em 1984 pela Imprensa Nacional/Casa da Moeda sobre o artista: Julio Saúl Dias, o Universo da Invenção, reeditada em 2004 com um novo título: Julio Saúl Dias, Um Destino Solar. Em 2013 e como Comissária da grande mostra: Artistas Poetas e Poetas Artistas Poesia e Artes Visuais no Século XX em Portugal, levou Julio à Fundação Calouste Gulbenkian de Paris, integrado no contexto dos maiores nomes desta tendência marcante da cultura portuguesa e europeia.
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Nesta mostra, reúnem-se alguns do melhores desenhos, aguarelas e pinturas de temática amorosa de Julio, e com a componente narrativa que o próprio autor reconheceu existir no seu trabalho, em diálogo com a poesia de Saúl Dias, ambas as vertentes: pintura e poesia, dando forma ao universo do artista considerado como o expoente do lirismo do século XX em Portugal.
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A este respeito pronuncia-se Maria João Fernandes: “Julio oferece-nos a vibração uníssona com os arquétipos de uma simplicidade mágica que floresce apenas ao sol e à luz do amor. Diálogo da palavra e do arabesco, expressão alquímica de mágica síntese, a sua obra apresenta-se uma vez mais, como a resposta do sonho, alternativa aos erros da civilização, para ser vivida e amada, como só os grandes criadores, e raros o foram ou o são, nos oferecem. Primavera da alma, florescendo ainda, sempre, sem perder nada do seu perfume e da sua intocada luz.”
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Segundo Gonçalo Salvado Comissário-Adjunto da exposição, esta pretende tornar “mais visíveis, depurando-as, as linhas de força da sua essencialidade, um amor nunca totalmente carnal, mas orientado para a transcendência, marca fundamental do lirismo português com raízes profundamente platónicas e bíblicas. No imaginário de Julio/Saúl Dias a mulher surge na sua pura e sã carnalidade e ao mesmo tempo transfigurando-se em aparição e epifania, dom supremo da própria vida, sinal de radiosa presença, sempre inalcançável. Demanda perene de um paraíso que nunca se perdeu porque só no sonho verdadeiramente se revelou.”
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De desenho para desenho e no conjunto das suas pinturas representadas pode verificar-se como na obra de Júlio a figura feminina tem um papel central, sobretudo no contexto do envolvimento amoroso de que é protagonista, juntamente com o jovem poeta que vai envelhecendo ao correr das décadas, sem que ela perca a sua juventude e a sua beleza. Por milagre da evocação e da poesia que eterniza o amor que ela soube despertar com a atmosfera que a este se liga, a de uma eterna Primavera. Justamente a atmosfera da Tarde Azul, que a presente exposição evoca.
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A mostra tem como novidade alguns aspetos originais e inéditos que importa realçar: o diálogo das artes tradicionais, representadas por uma Tapeçaria de Portalegre realizada sobre uma aguarela da “série Poeta” de Julio, pela primeira vez exposta, e por uma Colcha de Castelo Branco, presente em fundo na reconstituição do atelier do artista, onde se encontrava, e estabelecendo o vínculo da sua estética com a cidade que acolhe a exposição. A lembrar que Castelo Branco foi recentemente distinguida por causa das suas colchas, como cidade criativa da Unesco.
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No contexto de uma mostra bibliográfica serão expostas as primeiras e raras edições da poesia de Saul Dias, com destaque para aquela que o artista dedicou a seus Pais, da coleção particular do poeta Gonçalo Salvado.
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Um aspeto ainda a destacar é a ênfase para o tema do “nu feminino” com grande tradição na arte ocidental e na obra de Julio, pela primeira vez reunido numa perspetiva cronológica.
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Por outro lado, é pela primeira vez exposto o desenho de Julio que ilustrou a capa da Obra Poética de Saúl Dias, premiada ex com António Ramos Rosa em 1980 com o Prémio da Crítica.
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A exposição integra-se no conjunto de homenagens a grandes mestres da arte portuguesa do século XX português já patentes no Museu Tavares Proença Júnior de Castelo Branco, de Alfredo Keil e Vieira da Silva a Nadir Afonso e Costa Pinheiro. Neste caso trata-se da celebração da obra, nas palavras de David-Mourão Ferreira de “um dos mais delicados (…) produtores de encantamento que se nos deparam em toda a longa história do lirismo português.”