O setor apícola em Portugal e na região da Beira Interior enfrenta atualmente desafios severos. Incêndios, espécies invasoras e seca extrema são alguns dos problemas que têm angustiado os apicultores e para os quais se pedem mais apoios estatais.
Foram alguns dos temas abordados nas Jornadas Apícolas que reuniram no passado sábado na Escola Profissional do Fundão cerca de 80 agricultores.
Apesar do setor ter “crescido muito desde 1987, com cerca de 750 mil colmeias em Portugal”, Maria José Valério do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV), refere que a apicultura passa atualmente por “um período de muitas ameaças”.
As alterações climáticas são uma delas. A presidente da Pinus Verde, Marisa Monsanto, explica que “as temperaturas elevadas, a falta de água e a seca fazem com que não haja produção de flor. E mesmo que a flor nasça ela não vai ter néctar que é o essencial para a abelha produzir mel, para se alimentar e alimentar a colmeia”.
Também os incêndios, “tal como aconteceu o ano passado, destroem muitos apiários e colmeias, provocando mais uma vez a diminuição da flora apícola e das colónias”.
A Pinus Verde, responsável pela organização das Jornadas Apícolas, tem inscritos 210 apicultores, num total de 12 mil colmeias. Para além da seca severa, existe outro problema que já se arrasta há alguns anos e continua a preocupar os agricultores: a vespa asiática.
A espécie invasora faz ninhos nos apiários, comem o mel e as abelhas. Isto leva “à destruição dos apiários quase na totalidade e à diminuição do efetivo do apicultor”, explica Marisa Monsanto que fala ainda sobre o custo de aplicar armadilhas para as pragas.
A médica do INIAV, Maria José Valério prevê “muito menos produção de mel e, acima de tudo, muito menos polonização”, registando-se já “muitas percas de colónias”.
Amílcar Gonçalves, apicultor fundanense, ressente-se nestas questões e afirma que “o apoio direto era essencial para manter a atividade. Todo o agricultor com animais tem subsídio por cabeça e a apicultura não existe. Acham que a abelha não é necessária, mas quando começar a faltar a fruta na mesa começam a pensar que, se calhar, os apicultores deviam ter levado mais um bocadinho de ajuda”.
Foi também nesse sentido que o presidente da Federação Nacional de Apicultores, Manuel Gonçalves, na sessão de abertura do evento apícola, afirmou não largar o secretário de estado da agricultura até os apoios estarem garantidos. E ameaçou mesmo manifestar-se com as famílias à porta do Ministério da Agricultura.