Jorge Branco, médico e escritor, fez na Orca (Fundão) o lançamento do seu último livro “Marinho, um Falsário no Alentejo”.
No passado dia 9 de agosto o médico e escritor Jorge Branco, nascido na aldeia de Comenda, Gavião, Portalegre, filho adotivo da Orca, lançou nesta freguesia a sua última obra “Marinho, um Falsário no Alentejo”, apresentada pelo historiador Joaquim Candeias da Silva e antecedido de um momento musical por Ana Carolina Santos. Cerca de meia centena de pessoas, entre as quais os vereadores da Câmara Municipal do Fundão, Alcina Cerdeira e Pedro Neto, o editor da obra, Fernando Mão de Ferro, a presidente da Junta de Freguesia, Ressurreição Saraiva, e o diretor da ARCO, Joaquim Moreira estiveram presentes no lançamento do livro.
A obra, editada pelas Edições Colibri com prefácio do jornalista Fernando Alves, foi apresentada na esplanada da Associação Recreativa e Cultural da Orca, que promoveu o evento. Ficcionada a partir de factos reais biográficas ocorridos entre os anos vinte e oitenta do séc. XX, o livro retrata um hábil farsante – Marinho -, cujo traço firme aprimorado num curso de desenho industrial é um trunfo precioso no rigor dos primeiros passaportes falsos que hão de sair das suas mãos, safando da guerra colonial muitos compatriotas.
Com fino poder de observação e vertiginoso ritmo narrativo, o autor apresenta um fresco sobre um tempo português e os seus subterrâneos de um país resignado e dócil. O traço comum da vida de Marinho é a reclusão, sendo que este delinquente não comete crimes de sangue ou violentos, nem crimes contra pessoas individuais, mas transgrediu contra os poderes do Estado, falsificando documentos.
Fugir do país, por causa da miséria, essencialmente a salto através da fronteira espanhola vigiada, arriscando a prisão, algumas vezes a vida, ou da guerra colonial, foi a solução de muitos milhares de portugueses. Arranjar um passaporte falso, para quem o conseguia pagar, podia ser a solução de trabalhadores emigrantes ou jovens compelidos, faltosos, refratários ou desertores.
Na sua intervenção, Alcina Cerdeira, vereadora da cultura, fez o paralelo dos tempos de emigração de portugueses retratados no livro com o tempo presente, em que o país é agora acolhedor de imigrantes, sendo o município do Fundão um exemplo de integração.
O investigador e historiador Joaquim Candeias elogia a capacidade literária do autor “Para mim, esta é a melhor obra, é um romance muito bem escrito, bem enquadrado do ponto de vista histórico”. Fazendo referência ao conteúdo do livro, destaca “Estamos no tempo do Estado Novo, um país sofrido, um tempo cinzento, o autor fala-nos da fuga à guerra, dos cerca de 10 mil mortos na Guerra do Ultramar, onde faleceram três conterrâneos a quem falta ser prestada uma justa e merecida homenagem”.
Jorge Branco agradeceu a todos que, numa tarde cálida e sufocante, saíram de suas casas para estarem presentes. Relatou o trabalho de pesquisa junto dos tribunais e prisões em que uma das principais personagens – Marinho – foi condenado e esteve preso, situando a sua ação no território de Lisboa e região suburbana da capital, em que o jovem operário gráfico irá usar a precisão do traço, a competência profissional, a audácia e a inteligência na carreira continuada de falsário, fora e dentro da prisão. A outra personagem – Matilde –, a sua futura companheira, vem de uma aldeia rural alentejana, é filha de um latoeiro aprimorado e reto que transmitiu à filha valores éticos que tentou preservar, pelo menos até conhecer o falsário.
De: José Manuel Ferro