Cem anos de vida! Cumpridos neste início de outono, ainda ameno, mais precisamente no passado dia 27 de setembro. Em 1924, nasceu José António Ramos, com uma infância vagueada entre a pobreza e a fome, em que a pouca e única comida vinha das lides do campo.
Discorrer pela vida desde 1924 acarreta ter implícito o conhecimento e a vivência da ditadura do Estado Novo, a tristeza dos que não voltaram do Ultramar, a conquista da Liberdade de 1974, as vicissitudes dos cinquenta anos de democracia.
No trilho percorrido nos seus cem anos, o “Ti Zé” foi coveiro e sacristão, erudito tocador dos sinos da igreja, confirmado pela participação no documentário do músico e investigador escocês Tom Hamilton, sobre o resgaste das memórias relativas ao património sineiro. Lidou com muitas “personagens” da história orquense do século vinte, sabiamente retratadas no livro “Sobras de Deus – Numa Orca, tanto de Deus, tantos diabos” do concidadão Manuel Marques.
Ainda com suficiente capacidade de movimentação e admirável lucidez, com frequência marca presença na “assembleia popular das escadinhas” onde, recorrendo ao baú riquíssimo das suas memórias, vagueia sobre lembranças de gentes e acontecimentos de um século de vida, regressando aos prazeres da infância, à emoção do tempo inicial, ao imaginário das existências.
Mais de duas centenas de conterrâneos e amigos marcaram presença na festa de aniversário que a família prendou ao povo, com a colaboração da Junta de Freguesia. Foi uma tarde de mimos para um orquense que todos admiram e estimam, uma verdadeira força da natureza, que sempre ultrapassou com determinação todas as dificuldades que a vida lhe apresentou, tornando-se neste dia no mais velho cidadão residente na Orca.
De: José Manuel Ferro