A presidente da câmara de comércio da região das Beiras expressa, em carta aberta, a sua preocupação com o projecto de instalação da central solar fotovoltaica “Sophia” e das linhas de muito alta tensão. Para Ana Correia, esta iniciativa, que afecta os concelhos do Fundão, Penamacor e Idanha-a-Nova “não é um progresso” mas sim “um atentado anunciado que vai acelerar a desertificação do interior”.
Nesta carta aberta, a presidente da câmara de comércio da região da Beiras sustenta que “a população ainda não foi devidamente informada sobre as implicações permanentes e irreversíveis que este megaprojecto vai trazer”. Ana Correia aponta como exemplo mais flagrante as alterações climáticas locais extremas, sublinhando que “o próprio estudo do projecto admite um aumento de três a cinco graus celsius na temperatura local, com meses a fio de temperaturas que podem rondar os 50 graus, tornando a vida insuportável”.
A poluição e degradação ambiental, em que as populações “vão ser afectadas por poeiras de vidro, cimento e ferro durante a construção, e por ruído permanente”. Factores que “vão aumentar a concentração de dióxido de carbono localmente e a desertificação do solo será uma realidade, tornando a terra estéril e sem vida”.
Para a presidente da câmara de comércio, o desenvolvimento deste projecto pode representar a morte do turismo e da economia local, sustentando que “quem tem turismo rural, casas de campo ou negócios ligados à natureza pode dizer-lhes adeus. Ninguém quer passar férias no meio de um mar de painéis solares e linhas de alta tensão”.
Um impacto visual e patrimonial incalculável em que aldeias históricas como Monsanto e Penha Garcia, bem como a Mata da Rainha com a sua Torre dos Namorados e o castro da Covilhã Velha “vão ver a sua paisagem única e o seu valor patrimonial irremediavelmente afectados. A paisagem será industrial, não rural e histórica” assim como o isolamento e perda de acessos em que “inúmeras povoações e aldeias vão ficar permanentemente isoladas, cercadas por painéis com o corte de acessos públicos e caminhos de terra batida, seccionando o território e a vida das comunidades” assim como “a perda de terras férteis para cultivo e da caça” são outras das preocupações apresentadas.
Para Ana Correia “toda a Beira tem que se mobilizar, porque após esta primeira central estar estabelecida, existem planos para a mesma se expandir, transformando a região num parque industrial solar”, acrescentando que o território vai perder “saúde, bem-estar, emprego, cultura, história e segurança climática e ambiental, em troca de absolutamente nada, a não ser uma conta de electricidade ainda mais alta”
A presidente da câmara de comércio sublinha que é exigida “a realização urgente de sessões públicas de informação com a participação da empresa promotora e de especialistas independentes para uma avaliação credível e isenta dos impactos”. A disponibilização de informações claras e compreensíveis “sobre a localização precisa da central e uma descrição específica e detalhada de todos os impactos ambientais, sociais e económicos” e ainda uma reavaliação do projecto “com o redimensionamento e a relocalização da central «Sophia», com a apresentação de alternativas credíveis para minimizar os impactos negativos a todos os níveis”.
Ana Correia deixa ainda um apelo às câmaras municipais do Fundão, Penamacor e Idanha-a-Nova “para que tomem medidas imediatas no sentido de apoiarem e cooperarem com os seus munícipes, defendendo intransigentemente os seus interesses”, ao Presidente da República, primeiro ministro e ministro da coesão territorial “para que intervenham e ouçam o grito de alerta do interior” e ainda à agência portuguesa do ambiente e ao ministério da energia “que cumpram a sua missão de proteger o ambiente e as populações, rejeitando projectos que comprometem o futuro sustentável das regiões”.
Um apelo que a presidente da câmara de comércio da região das Beiras estende “a todas as pessoas, empresas e instituições para que assinem uma petição pública contra o licenciamento do projecto «Sophia»” sublinhando que “até dia 20 de Novembro é fundamental mostrar ao governo que levamos a Beira ao mundo e queremos ter o mundo na Beira, mas não à custa da sua destruição”.














