Os incêndios que devastaram a Serra da Estrela, da Gardunha e do Açor deixaram marcas profundas: cinzas, destruição e um forte sentimento de abandono. Perante esta realidade, um grupo de pessoas e de organizações decidiu promover” um momento apartidário de encontro e partilha”, em defesa da Serra, do território e das comunidades que aqui vivem. O evento está marcado para o dia 21 de setembro de 2025, 11h00, na Torre (Serra da Estrela).
“Este será um momento simbólico de catarse colectiva, para dar voz à dor e transformar a revolta em esperança; de encontro e convívio entre pessoas e organizações; de criação de laços e de cooperação entre entidades vizinhas; e de lançamento das bases para um movimento comum em defesa do futuro da Serra”, referem os promotores da iniciativa.
O movimento “Por Serras Dignas” sublinha que sem a participação activa das pessoas, associações e organizações locais, “nada disto será possível”, apelando à presença de membros das organizações, pessoas amigas, vizinhas.
A organização pede também que cada associação leve uma canção, um poema, uma inquietação, um desabafo ou uma proposta… para serem partilhados num momento “com microfone aberto!”.
Os promotores da ação querem enviar uma mensagem clara a todo o país: “Juntos e juntas iremos transformar este momento dramático num testemunho de que temos direito à dignidade e futuro das nossas serras”.
Por volta das 13h00 realiza-se um piquenique partilhado com a organização a sugerir que os participantes levem produtos locais e emblemáticos das serras da região.
Num manifesto aberto denominado “Por Serras Dignas! Queremos Viver aqui! Nós que Nascemos nesta Terra “, os subscritores começam por afirmar “Queremos viver aqui! Nós que nascemos nesta terra ou escolhemos nela viver erguemos a voz. As chamas que repetidamente têm consumido as nossas Serras, não são desastres naturais inevitáveis. São o sintoma gritante de décadas de abandono, de más decisões tomadas em gabinetes longínquos, de uma política florestal falhada e de promessas que nunca saíram do papel”
Depois, a exigência de respeito e dignidade. “Queremos um pacto real, a partir de valores democráticos. Queremos florestas vivas e diversas, ordenamento regenerativo, biodiversidade, água limpa, empregos dignos, culturas vivas, transportes, saúde para todos e casas acessíveis, uma economia que valorize quem cuida e quem permanece. Exigimos ações concretas e imediatas de todos os níveis de poder: central, regional e autárquico”, frisam.
As associações exigem prevenção ativa e contínua, não apenas combate sazonal, com criação de equipas profissionais de sapadores florestais durante todo o ano, com vínculos estáveis e meios adequados. Um novo modelo de ordenamento e gestão florestal, com o fim da predominância de monoculturas de espécies inflamáveis (como o eucalipto) é outra das reivindicações, assim como a valorização da comunidade e da economia local, com a criação de empregos dignos e verdes ligados à gestão da floresta, à conservação da natureza, à agricultura sustentável e ao turismo de qualidade e responsável. Apoio à fixação de população, com investimento em serviços públicos (saúde, educação, transportes), acesso à habitação e incentivos à economia circular e de proximidade.
São ainda exigidos meios de combate adequados e descentralizados com reforço dos meios aéreos e terrestres do Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Rurais, garantindo a sua prontidão e distribuição estratégica pelo território nacional, com atenção às zonas historicamente mais afetadas, e transparência, participação e governança com o fim da gestão tecnocrática e distante e que as decisões sobre o território sejam tomadas com as comunidades, não apenas para as comunidades.
“As serras são bens comuns a defender com e para todas as pessoas. No dia 21 de setembro, às 11h00, subimos à Torre de todos os lados da montanha para afirmar o direito de viver aqui. Queremos serras dignas para todos os seres vivos que aqui habitam! A montanha une”, conclui.













