Numa das assembleias gerais mais concorridas de sempre (excepção feita em 2010, aquando da realização das eleições com duas listas concorrentes, na qual votaram cerca de 500 associados), os sócios do Sporting Clube da Covilhã aprovaram, ontem à noite, com 140 votos favoráveis, 125 contra e 17 abstenções, a transformação da Sociedade Desportiva Unipessoal por Quotas, SDUQ, em Sociedade Anónima Desportiva, SAD.
Esta proposta da direção aprovada na assembleia geral de 29 de dezembro de 2022, e posteriormente anulada em janeiro de 2023 devido a uma providência cautelar interposta no Tribunal pelos associados Paulo Ribeiro e Hugo Duarte, prevê um aumento de capital da SDUQ de 50 para 250 mil euros, sendo que 10% das ações ficarão no clube, 10% serão vendidos aos sócios (de 03 a 07 de abril), ficando os restantes 80% disponíveis para futuros investidores.
Recorde-se que os sócios podem subscrever, até cinco mil ações, a cinco euros cada, num total de 25 mil euros, tendo prioridade os associados mais antigos. A discussão deste tema, já dura há três meses. Altura em que foi aprovado em reunião magna e de pronto contestado por grupos de associados que interpuseram uma providência cautelar para travar o processo e organizaram inclusive, uma petição para convocar nova assembleia geral, frisando, em ambos os casos, que a assembleia geral de dezembro estava ferida de ilegalidade.
Processos que na reunião magna desta terça-feira foram considerados “fundamentais” para que esta nova assembleia geral se realizasse, onde os prós e contras, foram bem vincados. Apela-se à união de todos os sócios, mas a verdade, é que tudo isso, mal se nota, a não ser no apoio à equipa de futebol profissional, na luta pela permanência na II Liga.
José Mendes, presidente do clube e Paulo Rosa, vice-presidente, fizeram questão de sublinhar as acusações de que têm sido alvo ao longo deste tempo, vincando que não se trata de oposição à proposta, mas acusações graves contra a sua índole. Quanto à proposta de criação da SAD, José Mendes frisou que “ao longo dos anos foi equacionado e maturada esta ideia para o clube”, e, face à diferença de orçamento para os clubes que têm investidores, e, “sentindo enormes dificuldades para competir com eles, não restou outra hipótese”, sublinhou. Vincou que iria respeitar a maioria, independentemente do resultado, sublinhando que são bem-vindos os que criticam de boa fé, pediu “paz” para lutar pela manutenção da equipa profissional na II Liga.
Paulo Rosa, vice-presidente do clube, reforçou a necessidade de investidores para conseguir os objetivos da equipa profissional, sublinhando que até o futebol de formação irá beneficiar com a situação, realçando que no Sporting da Covilhã “nem os escalões de formação têm as condições mínimas” para a prática do futebol. Destaca que a transformação da SDUQ em SAD foi “ponderada e pensada”, no sentido de “melhor defender os interesses do Sporting da Covilhã, com a possibilidade de até criar uma equipa de futebol feminina e equipa B”. Disse. Frisou que foram criadas cláusulas de salvaguarda para defender os direitos do clube, nomeadamente, “que as quotas dos associados revertem na totalidade para o clube, a autonomia sobre a utilização do estádio, a partilha de receitas publicitárias, de patrocínios e da venda de jogadores ou treinadores. O não poder alterar os símbolos do clube, a localização da sede, a alienação de património ou cisão, fusão, transformação ou dissolução da sociedade, previstas no artigo 13º dos estatutos, e que terão que ser aprovadas sempre por unanimidade e com a presença de um representante do clube na assembleia geral”. Acrescentando, o que considera virtudes da constituição da SAD, desafiando os que são contra a apresentarem outra solução, afirmando que “já não há tempo, nem paciência, para «o não porque não»”, afirmou. Sublinhou que a futura venda de ações da SAD “significa um encaixe financeiro de cerca de 3 milhões de euros para o emblema serrano, uma vez que o valor virtual da SAD é estimado em seis milhões”. Antes de ser posta à votação esta transformação foi, ainda, apresentado o parecer do revisor oficial de contas, que afirmou que a operação não merece nenhum reparo contrário, e o parecer do conselho fiscal do clube, que foi aprovado com o voto contra do seu vice-presidente Paulo Ribeiro. Foram vários os associados que usaram da palavra para se manifestarem contra a operação. Afonso Gomes disse que mantém a posição de há três meses porque “a SAD não assegura os interesses do Sporting da Covilhã”. Deixou a solução de alargar a abertura de capital aos sócios, porque o SCC “não pode ficar refém de ninguém e isto não é nenhum assalto ao poder”.
Carlos Feliciano falou “em cheque em branco para vender 80% do clube”, classificando a operação de há três meses “como uma bomba que caiu na cidade”.
Hugo Duarte manifestou-se a favor da transformação “desde que o clube seja sempre o sócio maioritário e não é o que se propõe. Independentemente de todos os mecanismos que queiram criar, fica claro que o clube vai deixar de ser maioritário. Por isso voto contra. Não é possível confiar nos actuais órgãos sociais do clube”. Referiu.
Marco Gabriel também usou a palavra para dizer que “a venda da SAD é a venda do clube e do seu maior património”, e que esta é “uma decisão irreversível”, disse, sublinhando que “o modelo de SDUQ não está esgotado”. Alerta que o novo regime jurídico das sociedades desportivas, “abre uma nova forma de sociedade” que poderá ser “uma possibilidade para o clube, não abdicando da maioria na sociedade, em caso algum se pode passar “um cheque em branco como o que é proposto na ordem de trabalhos no ponto 5”, disse.
Nas intervenções foi ainda criticado o facto de a assembleia geral ser a uma terça-feira, e não no fim de semana como foi anunciado, bem como o não haver voto secreto (os estatutos do clube, referem que, não havendo alienação do património do clube em equação, o voto será de braço no ar e/ou de pé- NR), o que foi reclamado através de um requerimento subscrito por 66 associados e não aceite pelo presidente da mesa da assembleia. Jorge Gomes, presidente da MAG, justificou o dia com o facto de que “esta era a única data disponível no auditório das Sessões Solenes da UBI”. Quanto ao voto secreto assegurou que “para estas matérias, os estatutos do clube, não o prevêem”.
Para além disso, o associado Óscar Feliciano também referiu que “a actual direção não é democrática, não aceita críticas dos sócios contrárias à opinião da direção, ameaçando até os mesmos com ida a tribunal”. Acrescentou ainda o sócio, que “se o SCC quer ajudar a melhorar o futebol português, porque não tem ido às reuniões da Liga Portugal?”. Houve ainda outros associados que destacaram as virtudes da proposta da direção, mostrando-se favoráveis à transformação, em especial porque consideram que a defesa dos interesses do clube está assegurada com o facto de ser necessária a aprovação da assembleia geral da transformação da SDUQ em SAD, casos de Francisco Moreira, Virgílio Frazão e Vitor Oliveira.
Um facto sublinhado por diversas vezes no decorrer dos trabalhos por Jorge Gomes, presidente da mesa da assembleia geral, que, logo no início propôs uma alteração à ordem de trabalhos, no ponto 5, para que se retirasse a palavra “maioritária” da sua redação. “Nem que seja para vender 1% a assembleia geral do clube tem que aprovar”, sublinhando, que “se não for aprovada a venda, o Sp. Covilhã pode ser SAD eternamente, sendo que o capital será 10% dos sócios e 90% do clube”, destacou, vincando também que esta “é a grande diferença da assembleia de dezembro passado, para esta reunião magna de terça-feira”.
Referir por último, que esta autorização para a direção poder alienar a terceiros até 80% do capital social da futura SAD, será “até ao final do mandato” (dezembro de 2024), com a obrigação de validação da assembleia geral do clube”, afirmou Jorge Gomes. Este ponto da ordem de trabalhos foi, também, aprovado por maioria, com 92 votos a favor, 57 contra e 6 abstenções.
Os associados aprovaram em minuta, todas as decisões tomadas na assembleia geral extraordinária, que teve a duração de quatro horas e meia.